sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Na alvorada do dia...

De manhã, um dia de verão, num parque fresco e deserto. Frio por ser manhã, frio por ser deserto, frio de pessoas, frio de interações, mas não frio de sentimentos, porque EU sinto, e ainda que seja só eu, apenas eu, basta. Chega para o que quero, chega para descobrir o que sou. Chega para pensar em mim, na minha vida. Chega para descobrir que vivemos num mundo de loucos, onde há coisas que realmente valem a pena. Vale a pena lutar por elas. São fortes, e se vale a pena lutar, faz parecer os obstáculos tão pequeninos.
Dirigi-me à liberdade, à minha liberdade! Dirigi-me ao balanço onde estava a me balançar sozinha, como que se empurrado pelo vento. Sentei-me, inteira... deixei que o sol me inundasse de vida, de calor, de aconchego. Lembrei-me da criança que fui, da criança que sou, da criança que quero ser e parecer. Lembrei-me de ser preciso um empurrãozinho para me fazer balançar quando era realmente criança no literal sentido da palavra. Agora não preciso mais... mas continuo a ser criança. Sim, porque ser criança é a coisa mais verdadeira, mais inocente, mais bonita deste mundo. Haverá algo mais verdadeiro do que ser criança no meio de um mundo desprovido de valores, de autenticidade? Sinto o vento a bater-me na face, sinto a vida tocar-me, a pureza, a grandeza.
Passados os dias, os meses, os anos, a ele me dirigi novamente. Ao balanço... a sede de ser criança. Ainda frio de gente, frio de interações e agora frio também do tempo. Chuviscou, choveu. Deixei-me ficar. Senti a chuva na minha pele, a despojar-me da malícia adquirida ao longo do contato com os demais. Deixei-me ali a sentir, porque ninguém consegue sentir o mesmo que eu. Ninguém! Ninguém consegue pensar o mesmo que eu. Ninguém consegue dizer o mesmo que eu. As palavras que saem da minha boca, os pensamentos que vão na minha cabeça, as palavras que eu escrevo, o que eu sinto, o que eu ouço, o que eu vejo, o que abraço, como eu danço, é genuíno, é meu! É forte, é puro! Ninguém pode fazer por mim. Nem quero que o façam. Porque são as pequenas coisas que têm força para mim. São as pequenas coisas que dão força a mim. Não preciso de muito para ser forte, eu sou, e sei disso. Não me interessa o que pensam, o que dizem. Só me interessa o que eu faço. Porque o que pensam de mim não me molda. O que pensam de mim não é realmente verdade. Ninguém consegue definir ninguém. Somos indefiníveis. E como diria Fernando Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro: nada / Teu exagera ou exclui. / Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes.”
Não me condicionem a ser igual, não me condicionem a pensar igual, não me condicionem a não cometer erros. Eu vou ser, ainda que não pareça, diferente, eu vou pensar, ainda que não pareça, de maneira diferente, eu vou continuar a cometer erros, a cometer acertos. E é isto que realmente me vai moldar. Aquilo que eu faço, que eu penso, que eu sinto, o que eu digo! E não qualquer juízo que façam sobre mim, isso não! Eu só tenho uma vida e não vou deixar ninguém controlá-la. Porque eu quero ser criança: livre, espontânea, genuína sempre!

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